Cartografia e ensino

Caros colegas,

Depois de termos discutido sobre os principais elementos da Cartografia, penso que agora podemos debater sobre o ensino de cartografia nos dias de hoje, já que houve uma “mudança epistemo/tecnológica” no padrão de se confeccionar produtos cartográficos, e que mudaram nos últimos anos com o advento da informática e da internet.
Por isso, disponho um texto que foi divulgado na revista Conhecimento Prático: Geografia em 2011, onde exponho meu pensamento sobre como entendo essa discussão nesses dias. Coloco esse texto aqui para iniciar uma nova discussão na coluna, a partir dos elementos já vistos nos posts anteriores, sobre o ensino da cartografia, sua divulgação e aplicações nos dias de hoje. Espero que apreciem a postagem:

O ENSINO DE CARTOGRAFIA NA ERA DA (GEO)INFORMAÇÃO

A forma de educar, de maneira rígida e sem críticas, foi notada durante um longo período nas disciplinas escolares que, durante anos, sofreram poucas modificações em seus conteúdos e no modo de ensinar utilizado pelo educador, considerado tradicional, inflexível e que inibia a criatividade do alunado. 


A principal característica do ensino tradicional se pauta em disciplinas meramente descritivas, enciclopédicas, decorativas, distantes da realidade vivida pelos alunos, onde o “decoreba”, ainda, acaba imperando. Contudo, nos dias de hoje, com a diversidade de tecnologias disponíveis, os professores tendem a modificar suas práticas docentes, levando em consideração não somente como o aluno demonstra-se em sala, mas como age no seu cotidiano e no relacionamento com a sociedade.

Nesse sentido, os métodos e as técnicas de repassar o conhecimento também sofreram alguns avanços. Pois, assim como em outras atividades humanas, o ensino de cartografia também vem sendo beneficiado com os avanços ocorridos nos últimos anos na informática e em suas ferramentas computacionais.
Se no passado, a ferramenta principal no processo de ensino aprendizagem da cartografia era baseado somente em mapas impressos em atlas e em livros didáticos, na atualidade a diversidade de softwares e ferramentas disponíveis na internet possibilita aos professores uma atualização constante e o dinamismo das aulas que envolvem produtos cartográficos.

Nos mapas impressos em livros didáticos e em atlas escolares a realidade é mostrada de forma “estática”, figurativa e muitas vezes sem relação com o texto principal, em que o papel do professor enquanto intermediador para se alcançar o conhecimento depende muito da formação do docente, onde, caso o professor não tenha estudado a cartografia em sua formação superior, o ensino fica prejudicado. 

O ensino tradicional, apesar de ainda hoje estar presente, antigamente, era repassado majoritariamente em todas as escolas do país, e agora é visto, com menos força, em alguns poucos resquícios em que a educação tradicional ainda se mantém, onde a localização de objetos e fenômenos é simplificada pela apresentação de mapas – de forma figurativa, em que os mapas e seu uso não possibilitam aos alunos um caráter crítico sobre a realidade que está nas ações humanas.

Nos dias de hoje, a popularização da informática e o acesso a textos e a produtos cartográficos em formato digital, além da flexibilidade/facilidade no manuseio das chamadas geotecnologias (hardwares, softwares e técnicas direcionadas para a geração de geoinformação, ou seja da informação espacial/geográfica), facilitou as atividades produtivas de diversos indivíduos, não somente para os professores de geografia ou de outras ciências humanas, mas de profissionais de várias ciências que integram às suas atividades docentes o ensino do/e pelo mapa, além de outros sujeitos que utilizam essas geotecnologias em sua localização cotidiana, como o Sistema de Posicionamento Global – GPS, ou a visualização das imagens do Google Earth, ou em outros sites de empresas privadas e governamentais (figura 01 e 02). 

Essa facilidade gerada com o avanço da informática, aliada aos conhecimentos cartográficos desenvolvidos durante séculos de estudo, que agora estão dispersos nos computadores, tiram do docente aquele velho pretexto de que não sabe cartografia devido a sua formação superior deficiente.

Figura 01: Site I3GEO – Ministério do Meio Ambiente Fonte: http://mapas.mma.gov.br/i3geo

Todavia, apesar da grande importância do conhecimento apreendido em sala de aula no ensino superior, o número de textos, livros, softwares e tutoriais sobre cartografia, sensoriamento remoto, geoprocessamento e geoinformação em geral, permitem que qualquer indivíduo tenha acesso aos produtos cartográficos da era digital.

Além disso, os sites, blogs e listas de discussão sobre essa temática vem se multiplicando diariamente, devido a facilidade do manuseio e ao fascínio que o ambiente computacional oferece para a confecção de produtos cartográficos. As figuras 01 e 02, dos sites do Ministério do Meio Ambiente e do Ministério das Cidades, demonstram essa realidade, onde não somente as empresas aderiram ao ambiente WebGIS, mas também diversos órgãos públicos.

Figura 02: GeoSnic – Ministério das Cidades. Fonte: http://geosnic.cidades.gov.br/

Os atlas digitais disponíveis na internet, juntamente com a tecnologia WebGIS que vem sendo desenvolvida, com suas camadas vetoriais e raster, são a prova indiscutível da popularização causada por essa demanda crescente de usuários da cartografia e da geoinformação. 

Como reflexo, os produtos cartográficos também vem sofrendo adaptações em seus formatos de apresentação, como por exemplo a elaboração de Modelos Digitais de Terreno – MDT, anamorfoses (figura 03) ou outros cartogramas complexos (figura 04), entre outras “lógicas”, que também possibilitam a geração de produtos cartográficos antes poucos comuns, devido às complexidades matemáticas envolvidas na sua elaboração.


Figura 03: Anamorfose Indicando a População Brasileira por Estado. Fonte: http://www.worldmapper.org/

Dessa forma, se antes o professor tinha que se preocupar com sua formação docente em nível de graduação e pós-graduação em sua área de estudo, atualmente a formação contínua (inter, trans e multi)disciplinar é imprescindível e pode ser buscada em cursos de curta duração em diversas Instituições de Ensino Superior (IES) no país. 

Essa educação continuada deve atender a demanda gerada pelo acesso que a internet oferece, disponível não somente ao professor, mas também ao seu alunado, cada vez mais questionador e ansioso por novos conhecimentos. 

Dessa forma, é mais comum nos dias de hoje não somente aprender a ler os mapas com as geometrias conhecidas dos continentes ou países, mas também cartogramas e anamorfoses que demonstram a realidade complexa que está por traz das formas reais existentes no espaço geográfico, como se pode observar nas figuras 03 e 04 em que a geometria dos lugares pode ser desconsiderada segundo a importância da temática analisada no produto cartográfico. Sendo, nesse caso, imprescindível o conhecimento anterior do espaço que está sendo estudado.
Figura 04: Cenários Ambientais Brasileiros. Fonte: Política Nacional de Ordenamento Territorial - PNOT (http://migre.me/bIRwM)

Contudo, apesar dos avanços tecnológicos, essa formação contínua docente não deve desprezar os conceitos e categorias formulados durante séculos e que embasaram todos esses anos os conhecimentos cartográficos. Pois, não se deve confundir a tecnologia, ferramenta e/ou produto final, com a ciência que fundamenta todos os conhecimentos utilizados para a criação desses produtos.

Onde, mais do que “apertar botões” o usuário – professor ou aluno, tem que saber ler, entender e interpretar a informação espacial plotada, de forma que possa gerar outros produtos que levem os seus alunos/leitores a outras formas de conhecimentos. Na figura 05 pode-se observar a janela inicial do programa Marble, que é um software livre que pode ser utilizados pelos professores na dinamização das aulas com mapas e globos.


Figura 05: Software Educacional Marble. Fonte: http://edu.kde.org/applications/all/marble

A tendência que se mostra aos usuários de mapas - e para o ensino de cartografia, é que os WebGis terão cada vez mais divulgação e se tornarão importantes ferramentas a serem agregadas ao processo de ensino-aprendizagem, devendo o docente respeitar, sempre, a faixa etária e o nível cognitivo do seu público-alvo discente. 

Sem o temor da defasagem, o professor agora tem que ultrapassar o papel de simples intermediário na explicação dos mapas e se tornar um leitor/mapeador consciente que, para a dinamização de suas aulas, deverá incorporar além do uso do livro didático, atlas impresso, músicas, filmes, visitas orientadas e outras práticas. Nesse sentido, os avanços (geo)informacionais vem complementar e tornar as aulas cada vez mais atrativas para um alunado cada vez mais curioso. 

Espero que tenham gostado da postagem. Comentem! Aguardo os comentários para um debates, quem sabe.