Saudações a todos os colegas!
Para continuar a nossa discussão sobre a importância da cartografia, bem como dos elementos componentes de um mapa, é importante enfatizar que devemos “praticar a leitura cartográfica”, como forma de nos tornamos “melhores leitores do espaço geográfico”, visto que o mapa, além de ser uma representação simbólica desse espaço, é um “modo de ver o mundo” e, com isso, mostrar ou ocultar informações que são pertinentes, que devem ou não ser explicitadas
Assim, como todos nós sabemos, os mapas são ferramentas há muito tempo utilizadas pela humanidade em sua tentativa de compreender o mundo em que vive. Os avanços nas formas de se elaborar alguns produtos cartográficos são evidentes e, entre estes avanços, é necessário notar o uso de computadores. Porém, essa representação virtual nem sempre esteve disponível, sendo os mapas impressos recursos fundamentais para a divulgação do conhecimento dos mapas e dos objetos e fenômenos representados por suas técnicas cartográficas.
Dessa forma, os mapas impressos são recursos didáticos utilizados desde que as disciplinas escolares foram sistematizadas e institucionalizadas em ambiente escolar. Porém, é importante destacar que o uso desses mapas impressos para a leitura do espaço geográfico sempre se destacou de forma tradicional, que se caracteriza pela diferenciação e descrição dos lugares, objetivando a repetição excessiva das características regionais, que possibilita aos leitores, muitas vezes, somente uma breve memorização de informações geográficas, por meio de imagens e símbolos, de forma ilustrativa, de forma pronta e acabada, sem que ocorra a discussão crítica dos aspectos socioeconômicos das diferentes regiões da superfície terrestre.
Apesar dos problemas de representação contidos em alguns mapas impressos, principalmente no que tange a ausência ou erro dos principais elementos do mapa (legenda, título, escala, orientação, projeção), como foi mostrado em posts anteriores, o uso do mapa não está ultrapassado e não se deve deixar de considerar a sua importância no desenvolvimento e na sistematização do processo de ensino-aprendizagem, pois foi pelo uso dos mapas impressos, utilizados em sala de aula, que o conhecimento cartográfico passou a ser popularizado e utilizado para a construção do conhecimento de seus usuários nas escolas, com o objetivo de auxiliar os estudantes em sua aprendizagem.
Nesse sentido, ao se pesquisar sobre o uso de mapas no ensino do espaço geográfico, encontramos os trabalhos publicados de diversos autores, que têm se debruçado em estudar essa ferramenta, principalmente, para o ensino de geografia, como se encontram nas análises feitas em mapas temáticos (ROSETTE e MENEZES, 2011), em livros escolares (COSTA; LIMA; CESÁRIO, 2007) e de provas de vestibulares realizada por Palomo (2008), entre outros que se detém a realizar esse tipo de estudo e serviram como referencia para a preparação desse texto.
Assim, continuando a discussão sobre a importância da cartografia e partindo dos pressupostos sobre os elementos da cartografia que devem compor os mapas, foram analisados mapas temáticos existentes em atlas escolares impressos e livros didáticos de geografia, de diferentes anos e autores, sendo esse trabalho uma breve síntese de um projeto maior, ainda não publicado.
O que pretendemos não é descartar a importância dos mapas para o ensino, mas sim discutir sobre o seu uso e como ele pode oferecer subsídios ao s usuários em sua leitura do espaço geográfico. Contudo, conforme já observamos em análises anteriores, é importante seguir alguns direcionamentos para se selecionar um produto cartográfico, observando os possíveis problemas e erros que podem conter, para não prejudicar o processo de ensino-aprendizagem de todas as disciplinas que podem se valer do uso da cartografia.
Assim, durante a análise dos mapas temáticos foram identificadas ausências de elementos cartográficos, tais como: escala, orientação, projeção, fonte, legenda e o título, dentre outros, além de erros na localização de lugares ou na apresentação simbólica dos objetos e fenômenos, não seguindo as normatizações que as técnicas cartográficas sugerem, o que pode contribuir para a apreensão incorreta das representações do espaço geográfico pelos alunos/leitores/usuários.
Por exemplo, em um mapa contido no atlas da figura 01 - A verificou-se que há uma tendência à apresentação de estereótipos e regionalismos por parte do autor que, por meio de textos e figuras (destacados pelo círculo vermelho), podem induzir o leitor à compreensão equivocada das realidades encontradas nas regiões brasileiras, onde ocorre a depreciação de regiões (norte e nordeste), em detrimento de outras (centro-sul).
Já na visualização da figura 01 B, observa-se que não há um ícone de orientação, como a rosa dos ventos, e nem a informação do tipo de projeção utilizada na elaboração dos mapas. Percebe-se que há um mapa de localização/situação no canto superior direito da figura, porém, ao analisar as observações deste elemento, verificamos que não possui informações novas que complementem o mapa principal, mas sim, somente repete as informações do mapa em destaque, o que é desnecessário.
Em outra análise, foram observados que alguns dos mapas analisados não seguem padrões e convenções de cores para as temáticas dos mapas (geomorfologia, geologia, pedologia, por exemplo) e as cores utilizadas não retratam as simbologias encontradas nestes elementos na realidade, seguindo convenções internacionais que existem.
Em se tratando do título dos mapas, que deve ser uma das primeiras informações mostrada pelos mapas, em alguns mapas analisados, foi verificado que alguns somente possuem informações mínimas, que não respondem: “O que?”, “Onde?” e “Quando?”, não são explicativos, ou direcionados a temática principal do mapa, isto é, são gerais, por exemplo, como visto com o título “Planisférico Físico”, ou “Mapa Físico”, onde se mostram áreas com maior e menor altimetria, mas restringem a temática principal a um único elemento, demonstrando o “físico” apenas como se fosse relacionado a geomorfologia, conforme se verifica nas figuras 02 – B, sendo correto aplicar o título segundo a temática principal do mapa, como por exemplo, informando a questão do relevo, como na figura 02 – A.
Ao analisar o elemento legenda, que deve possibilitar aos leitores a interpretação e o conhecimento do espaço geográfico e/ou fenômeno manifestado no corpo do mapa e, por esse fato deve ser explicativa, verificou-se que muitas das legendas contidas nos mapas – quando existiam, não auxiliam o leitor na interpretação do produto cartográfico. Desse modo, em um mapa “poluído”, com muitas informações, repleto de figuras, cores inapropriadas e formas diversas, a legenda, que deve ser indissociavel e fazer referência ao mapa principal, tem o seu entendimento comprometido, como se visualiza nas figuras 3 – A e 3 – B.
Nesses mapas a interpretação é dificultada por estarem “poluídos” com palavras de tamanho e formatos diferentes devido, principalmente, o pequeno espaço de impressão (geralmente em papel formato A4), tornando a escala escolhida inapropriada ao fenômeno que se pretende apresentar.
Ainda, existe sempre a possibilidade de apresentação dos símbolos, com variáveis visuais (forma, cor, matiz, orientação, etc) diversas (JOLY, 1990; ARCHELA e THÉRY, 2008), que, quando utilizados incorretamente podem “poluir” o mapa, devido a sobreposição ou aglomeração de informações em um mesmo espaço, como acontece nas figuras 4 – A e 4 – B, onde os símbolos confundem-se entre eles, com cores e formas diversas (4 A), ou com uma mesma cor que se sobrepõe e dificulta a distinção dos elementos.
A maioria dos mapas temáticos analisados não inovam quanto a representação dos objetos e fenômenos observáveis na superfície terrestre, não apresentando “novas formas” de representações cartográficas, que se tornaram mais comuns com o desenvolvimento da informática e com o progresso do geoprocessamento, por exemplo, as anamorfoses, os cartogramas, gráficos, mapas de fluxo, etc, excetuando-se o atlas de Scoffham (2010), em que algumas dessas representações são notadas.
Essa evolução tecnológica por qual passa a cartografia da atualidade pode enfraquecer a análise crítica contida nos mapas, pois as chamadas geotecnologias – tecnologias de processamento computacional da informação espacial, tem a facilidade de produzir mapas de maneira mecânica, sem a análise crítica de seu formulador e/ou leitor. Esse fato reflete nos mapas que são produzidos para livros escolares ou outras finalidades, pois o elaborador, muitas vezes, não escreve o texto de análise e vice-versa, ou não tem o cuidado com a representação do espaço geográfico e com o layout do mapa.
Nesse caso, para não cair em erros ao se escolher uma ferramenta de auxilio para o ensino de cartografia (atlas impresso/digital ou livro didático), podemos seguir as orientações sugeridas por Sposito (2006; 2012), De Toni e Ficagna (2005) e Brasil (2006), que podem auxiliar no processo de escolha do material didático, nesse caso, essas sugestões foram adaptadas para a análise dos elementos cartográficos, conteúdo e relação textual, além da apresentação dos mapas. São recomendações quanto aos aspectos teórico-metodológicos de adequação a um determinado público alvo, com critérios classificatórios para que o usuário possa ter parâmetros de qualidade dos mapas:
A) Aspectos teórico-metodológicos:
- Adequação dos mapas apresentados ao nível de desenvolvimento cognitivo ou série dos leitores;
- Coerência entre os mapas e o texto de análise dos mesmos;
- Coerência dos exercícios que utilizam os mapas;
- Os mapas devem estimular os vários processos cognitivos básicos – desenvolvimento da perícia, aquisição de habilidades, esquemas, modelos mentais, cognição espacial, raciocínio dedutivo e indutivo, resolução de problemas, atenção, representação do conhecimento, memória e aprendizagem - sem o privilegiar um em detrimento de outro.
- Não podem existir erros conceituais ou formulação errada de conceitos, que dificultam a compreensão dos mapas, como por exemplo, informações erradas ou ultrapassadas;
- Os mapas não podem conter preconceito ou indução a preconceito de origem, etnia, gênero, religião, idade ou condição socioeconômica;
- Os mapas devem ter isenção de estereótipos e de regionalismos que possam reduzir a compreensão das realidades em escalas menores;
- Os mapas apresentados devem trabalhar com diferentes escalas geográficas e cartográficas;
- Os elementos cartográficos (legenda, orientação, título, projeção, escala), devem estar contidos nos mapas, como forma de facilitar a leitura, entendimento e interpretação dos produtos cartográficos pelo leitor;
- No que se referem aos aspectos teórico-metodológicos, os mapas devem garantir o processo de ensino-aprendizagem;
- Os mapas contidos na ferramenta selecionada devem auxiliar na passagem do senso comum para o nível científico, com a aquisição de novos conhecimentos a partir daquele que os usuários já possuem;
- Na ferramenta selecionada, deve existir uma distribuição e articulação adequada dos conteúdos propostos e os mapas apresentados;
- Os conceitos expressos nos mapas devem ser aceitos pela comunidade científica;
Os mapas devem ter boa legibilidade, em que seja possível a visualização das ilustrações, sua adequação ao nível cognitivo relativo e o tamanho adequado dos textos e figuras.
Além desses critérios adaptados de Sposito (2006; 2012), De Toni e Ficagna (2005) e presentes em Brasil (2006), o usuário deve definir critérios e parâmetros próprios para a escolha de seus mapas. Assim, é importante que o principal usuário/intermediário (educador ou outro profissional que trabalhe com mapas) saiba que, na atualidade, existem diversos mecanismos (softwares) para a escolha, visualização ou elaboração de mapas.
Com esse texto espero ter ajudado no entendimento de como um mapa deve ser “bem apresentado” (afinal a cartografia é arte, técnica e ciência), contendo seus elementos “facilitadores” da leitura e tendo o bom senso para auxiliar na construção do conhecimento, sem poluição ou acúmulo de informações que tornem seu entendimento confuso. Os próximos posts serão direcionados à análise de Objetos de Aprendizagem (CASTELLAR; SACRAMENTO; MUNHOZ, 2011) para o ensino de Cartografia.
Até a próxima...
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
ARCHELA, Rosely Sampaio e THÉRY, Hervé. Orientação metodológica para construção e leitura de mapas temáticos. Confins Online, 3, posto online em 23 junho de 2008. Disponível em: http://confins.revues.org/3483. Acesso em: setembro de 2011.
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CASTELLAR, S. M. V.; SACRAMENTO, A. C. R.; MUNHOZ, G. B. Recursos Multimídia na Educação Geográfica: perspectivas e possibilidades. Ciência Geográfica, Bauru, v. 15, n. 1, jan./dez. 2011. Disponível em: http://migre.me/bP5Qb. Acesso em: Novembro de 2012.
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ROSETTE, A. C. MENEZES, P. M. L. Erros Comuns na Cartografia Temática. Disponível em: http://www.geocart.igeo.ufrj.br/pdf/trabalhos/2003/Erros_Cart_Tematica_2003.pdf. Acessado em: fevereiro de 2011.
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Pós Graduação EaD