Evolução da Representação Cartográfica

Olá, 

Companheiros, hoje vamos falar um pouco sobre a Evolução da Representação Cartográfica ao longo dos anos e a importância dos mapas para o progresso da humanidade.

Todos nós sabemos que desde épocas antigas a sociedade sempre tentou representar/mapear o espaço em que vivia, seja como forma artística ou em busca de representar os locais de convívio ou de alimentação. Para isso, no decorrer dos anos, novas técnicas e as ferramentas foram agregadas a essas tentativas de ler e compreender o espaço geográfico, aperfeiçoando as leituras sobre os lugares do planeta Terra. 


Como exemplo, podemos citar a invenção de equipamentos que nos ajudam em nossa localização, como a bússola, o astrolábio, o Sistema de Posicionamento Global (GPS), e outros instrumentos que ajudaram em algum momento, ou ainda facilitam a localização dos objetos e a representação da superfície terrestre.

A curiosidade humana em se localizar sempre teve várias questões a serem respondida: De onde viemos? Para onde vamos? Quem somos? Etc. Sendo que a pergunta “Onde estou?” sempre ajudou os homens a buscarem sua localização na superfície, para poderem identificar suas moradias, locais de alimentação e/ou de lazer, etc.


A Questão Básica dos Mapas: Onde estou?


Figura 1: A pergunta básica para o mapeamento: Onde Estou? Fonte: IBGE (2011)





Desde os tempos mais remotos, o Homem vem interferindo nos lugares de sua morada, lazer e de seu trabalho e, por esse motivo, sempre tentou entender melhor os lugares para melhor neles agir. Porém, para poder entender todos os lugares da Terra, os seres humanos sempre tentaram representar o seu cotidiano de maneira variada, como por exemplo, quando os homens primitivos faziam as pinturas em cavernas, que buscavam apresentar a forma de vida daquele tempo. 

Nos dias de hoje, essa forma de representação mudou, pois o avanço da informática possibilita a todos nós representar nossos espaços de convivência por meio do computador. Assim, o que mudou dos tempos antigos para hoje é a forma como a tecnologia está disponível, mas o interesse em mapear os lugares continua o mesmo nos seres humanos.

Com o passar dos anos, a grande maioria das ciências se utilizaram dos mapas para suas pesquisas e comprovações científicas, pois a localização dos objetos ou dos fenômenos é um fato importante para se considerar no entendimento dos processos que se quer entender. Não poderia ser de outra forma, já que o espaço geográfico interfere nos estudos ou é parte importante deles.

Nesse sentido, a pergunta
ONDE ESTOU? (figura 01), sempre motivou o Homem a tentar representar o seu espaço de atuação. Desse modo, de acordo com o tipo de tecnologia empregada pelo Homem (carvão, pincel, caneta, computador, etc), o produto cartográfico que poderá ser elaborado também será variado, manifestando-se como um simples croqui, um globo, ou como um mapa temático de determinada região. Sendo que, os croquis, globos, mapas, cartas, maquetes e plantas nada mais são do que uma simplificação da realidade, ou seja, uma tentativa de representar graficamente e simbolicamente o espaço real que os Homens habitam. 

Saber se localizar e transmitir com precisão sua própria localização em formato de mapas é uma das características da comunicação cartográfica que só os seres humanos possuem e que se trata de uma forma de comunicação universal, onde o leitor, independente do idioma ou país, reconhecerá as formas dos rios, estradas, cidades e outros objetos, de acordo com as percepções comuns que todos têm da superfície terrestre, ou seja, de acordo com as formas, cores, orientações, por meio da padronização dos símbolos, etc.

Porém, nenhum mapa é perfeito, pois sua perfeição nunca atingirá todos os objetos que estão na superfície terrestre, da forma como são realmente e de como podem ser representados. O que os elaboradores de mapas (todos nós) devemos fazer é tornar os mapas mais compreensíveis o possível, para que todos os leitores que manusearem um determinado mapa possam identificar o lugar que está sendo representado (de onde é?), tendo a certeza de que o mapa que está sendo lido se refere a um determinado lugar, em um determinado tempo, pois todo mapa reflete o momento em que foi confeccionado, representando os lugares naquele momento e podem dar sugestões para cenários futuros.

As Representações Espaciais e a Evolução dos Mapas

As representações espaciais, ou seja, a forma como os homens representam simbolicamente os lugares de sua vivência, estão presentes em toda história da humanidade, antes mesmo da escrita letrada e da articulação da linguagem. Um exemplo evidente desse modo de se comunicar pode ser observado no próprio processo das crianças, que antes mesmo de falar, quando tentam representar o espaço em que vivem, tentam desenhar o que vêem por meio de riscos com lápis ou com tinta. 


Foi assim também com o Homem pré-histórico que, utilizando-se de símbolos e desenhos tentava, por meio da tecnologia disponível na época, representar suas primeiras apreensões do real nas paredes de cavernas há aproximadamente 40 mil anos atrás (figura 02).

Figura 2: Pinturas rupestres elaboradas pelo homem de Cro-Magnon (Homem primitivo). Fonte: site (2011)

No entanto, com o avanço das ferramentas construídas pelos homens, utilizando recursos mais modernos (lápis, pincel, etc), o que poderia ser representado simbolicamente foi ganhando mais similaridade do que se via no espaço real. Assim, os lugares, as cidades, as casas e outros objetos foram ganhando formas mais precisas pelas representações simbólicas, a partir do momento em que a evolução nos meios onde se representava os símbolos também tiveram um progresso importante, pois se antes o Homem primitivo realizava suas pinturas nas paredes das cavernas, no decorrer do tempo passou a pintar em placas de barro, depois em papiros, em folhas de papel, até chegar na representação nos computadores, como conhecemos, com softwares e sites especializados para a elaboração de mapas.


Figura 3: Mapa de Ga-Sur: o mapa mais antigo já visto. Fonte: Oliveira (1983), Geomundo (2011) e GeoGuia (2011).

Como exemplo de mapa antigo, vemos na figura 03 acima o chamado Mapa de Ga-Sur, que é um “mapa” feito em uma placa de barro cozido de 8 x 7 cm, elaborado pelo povo que vivia na Mesopotâmia e busca representar uma região de vale, que se presume seja do Rio Eufrates, no Oriente Médio. Esse mapa é considerado o mapa mais antigo já visto pela humanidade, sua antiguidade é calculada entre 2.400 e 2.200 a.C, sendo que naquele momento, diferente do homem de Cro-Magnon (figura 02), nesse período já se possuía uma outra forma de suporte para a representação espacial, nesse caso, uma placa de barro.

É importante entender que, diversos povos contribuíram com o avanço do que hoje se conhece na cartografia. Os gregos, egípcios, romanos, chineses, franceses, ingleses, entre outros, foram povos que deram uma contribuição importante para a forma como representamos os lugares na atualidade, pois as formas geométricas desenhadas por esses povos fazem parte de um conjunto de conhecimentos e percepções tidas na atualidade como universais. 


Esses conhecimentos adquiridos pelos povos antigos, decorrentes do mapeamento dos lugares que se conhecia ou que se conquistava, eram guardados e repassados por meio de troca ou de guerras de conquista, onde o povo conquistador recebia, além de jóias e recursos econômicos, os conhecimentos contidos em bibliotecas e mapotecas.

A partir das mudanças causadas pelo avanço nas técnicas de comunicação, e também de representação cartográfica, com o advento de tecnologias náuticas, desenvolvidas principalmente durante a expansão marítima européia, nos séculos XV e XVI, que intensificou o comércio para o Oeste, permitindo o reconhecimento de novos continentes, os mapas foram sendo divulgados e padronizados, com destaque para os chamados mapas portulanos, que mostravam a localização dos principais portos do mundo (figura 04) que permitiram uma representação mais aproximada do real e possibilitaram ao Homem conhecer lugares antes desconhecidos ou inacessíveis.


Figura 4: Exemplo de mapa Portulano do Atlêntico e Pacífico oriental, desenhado por João Teixeira Albernaz, 1681. Fonte: Morales (2008)

Nesse sentido, como estamos vendo, os mapas ao longo de sua história passaram a ser utilizados para diversos fins, não mais apenas para os “descobrimentos”, conquistas e demarcações dos novos territórios, mas também, posteriormente, para o ensino e o repasse do conhecimento da superfície terrestre para uma quantidade de pessoas maior, pois se antes os mapas eram elaborados artesanalmente, um a um e repassados à algumas poucas pessoas, com a invenção da imprensa, por Johannes Gutenberg no século XV, os mapas se tornaram acessíveis a uma camada maior da população.

Com o acúmulo de informações criado pelo volume de mapas elaborados com o desenvolvimento de instrumentos e técnicas após a expansão marítima européia e a revolução industrial, foi necessário uma padronização cartográfica mais precisa, onde a representação e leitura dos mapas necessitou da criação das chamadas convenções internacionais, concebidas, principalmente, a partir do século XX, que possibilitaram o aperfeiçoamento das representações espaciais. Esse fato não era possível em tempos passados, onde a produção cartográfica era artesanal.

Assim, todos os povos, de alguma forma, sempre tentaram representar simbolicamente e cartograficamente os seus lugares de moradia, trabalho e lazer, mas houve um salto na qualidade instrumental nas ultimas décadas, causado pelo avanço das formas de coleta de imagens por sensores remotos, no progresso da informática e no desenvolvimento da internet. A criação e desenvolvimento dessas ferramentas devem ser considerados como importantes progressos para a cartografia, devido ao fato de terem facilitado a percepção de regiões maiores, bem como na manipulação e impressão de novos produtos cartográficos.

Bom, espero ter contribuído com essa leitura. O próximo texto será uma continuação deste e vai procurar falar uma pouco mais do avanço na ciência cartográfica.

Até a próxima...

Bibliografia Consultada

ARCHELA, Rosely Sampaio e THÉRY, Hervé. Orientação metodológica para construção e leitura de mapas temáticos. Revista Confins. Disponível em: http://confins.revues.org/3483?&id=3483. Acesso em Outubro de 2011.
DUARTE, P. A. Fundamentos de cartografia. Florianópolis: Editora da UFSC, 2006.
MORALES, Mario Ruiz. A evolução dos mapas através da história. Tradução Iran Carlos Stalliviere Corrêa. Porto Alegre-RS: UFRGS, 2008.
MOURA FILHO, J. Elementos da cartografia: técnica e histórica. Belém: Falangola, 1993.
OLIVEIRA, C. Dicionário Cartográfico. Rio de Janeiro: IBGE. 1983.
SEABRA, Giovanni. Geografia Fundamentos e Perspectivas. 4a edição. João Pessoa: Editora UFPB, 2007

Sites Consultados

IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Atlas geográfico escolar. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/ibgeteen/atlasescolar/index.shtm. Acesso em: outubro de 2011.
GEOGUIA. A história da Cartografia. Disponível em: http://geoguia.blogspot.com/2010/02/historia-da-cartografia.html. Acessado em: dezembro de 2011.
GEOMUNDO. O mapa mais antigo. Disponível em: http://www.geomundo.com.br/geografia-30174.htm. Acessado em: novembro de 2011.
SITE, The human journey. The evolution of universals in our distant ancestors the hominids. Disponível em: http://www.humanjourney.us/universals2.html. Acesso em: novembro de 2011.